Mudei-me para:

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

MERIDIANO JUDEU

Surpreendeu-me aquele acto de macabros contornos perpetrado por dois garotelhos no cemitério Judeu, em Lisboa.
Tenho por estes grupinhos de "canalha brava", de mentes intoxicadas por doentios ideais(?), o mesmo asco que nutro por aqueles outros, com ideais(?) diversos, mas da mesma estirpe violenta e radical, que partiram montras na Baixa de Lisboa e destruíram o campo de milho no Algarve.
São, como diz o Povo "farinha do mesmo saco". Servem obscuros interesses de quem se aproveita da congénita irreverência juvenil para alimentar movimentos que não querem ou não sabem integrar-se em Sociedades democráticas, de diálogo e tolerância. Não passam de joguetes irresponsáveis acicatados por desviantes sinais de ódio e violência gratuitos.
Algum ódio de estimação que ainda perpassa por larga franja de europeus não é novo. Tem raízes em momentos históricos do Passado que, o bom senso e o Humanismo de Hoje, não podem permitir que se prolongue ou repita.


Sobre os Judeus, já em 6/1/1979 - já lá vão quase 30 anos -, escrevia assim:


MERIDIANO JUDEU

- Ah grande judeu! - Acabava de praticar uma das minhas infantis patifarias e a minha vizinha, velhota, de regresso da missa dominical, não perdoava: - És um grande judeu!...
Muitos anos ainda aquela senhora, madrinha do acaso, me foi chamando pelo nome estranho que, ao tempo, entendia por "mau", "velhaco", ou carícia semelhante.
Judeu! Quanto não se viria, depois, a falar e escrever desses judeus, em grandes títulos, pelos jornais que, aos Domingos, corria a comprar ao Vouguinha, o comboio do meio-dia, conhecido por "Expresso do Vouga", pela módica quantia de oito e dez tostões! Judeus que, para surpresa minha, eram, afinal, Gente!...
Hoje, no emaranhado da teia política de ocasião, entrechocam-se pontos de vista e dividem-se critérios, entre pensamentos de lógica e as mentes da paixão. Uns admiram-nos, outros os odeiam, os primeiros compreendem a sua actuação, os segundos os amaldiçoam.
Mas, a realidade não é coisa falível, nem sujeita às variações sentimentais e os Judeus são mesmo uma Nação, com Povo e território ciosamente seu, lutando para que os deixem viver.
No Mundo contemporâneo, quando tantos, por tantos lugares da Terra, exalam odores demagógicos de bebedeiras de humanismo, igualdade, solidariedade, a que vamos assistindo? Qual o procedimento, a actuação concreta de muitos países que, em verborreias de ódio destilado em alambiques de imundos interesses, acenam a cada passo com o perigo do fantasma nazi que foi, de facto, o inimigo mais atroz dos judeus. Qual é, pois, a sua genuína posição em relação ao problema israelita?
Proclamado em Maio de 1948, o Estado de Israel, onde vive hoje mais de 20% do povo judeu, encarnação e vivência física do sionismo, foi o abrigo, por direito merecido, para o grupo humano mais maltratado da História. E que jamais teria nascido se não fosse a força, a persistência das tradições judaicas, inspiradas na Bíblia. Foi mesmo a herança espiritual dos seus antepassados que permitiu a sobrevivência dum povo retalhado que, por paradoxo, os "guetos", nome originário dos bairros judeus de Veneza do séc. XVI, ajudaram a preservar.
Até alcançarem aquela meta, por que tanto sofreram e lutaram, os judeus tiveram uma vida agitada, desde há muitos séculos, e nem a Revolução Francesa, fonte indiscutível de humanismo e liberdade, conseguiu que fossem cidadãos livres, de plenos direitos, em todas as nações.
Lançados pela velha Europa, após a expulsão dos árabes da península Ibérica, onde também se acolhiam, foram vivendo ao sabor dos caprichos de monarcas e chefes de estado que raro os encaravam com benevolência.
Assim, mesmo após a sua proclamada emancipação, coincidente com a revolução Industrial, na maioria dos países onde se radicaram, a Europa de Leste, ainda czarista, manteve os guetos, não permitindo o livre acesso dos judeus às cidades mais importantes.


Continua em próxima postagem.....