É fim de semana. As preocupações, os pensamentos que nos martelam a mente pela crueza da vida, os problemas do quotidiano, as perspectivas pessimistas quanto ao futuro, é bom que fiquem engavetadas....,pelo menos, até Segunda!
O riso é preciso. A boa disposição, também.
Lembrei-me dum dos muitos episódios antigos, verídicos, mas que me induzem bom humor sempre que os recordo.
Este já tem uns bons anos, mas dá-me gozo recordá-lo:
Decorria o Verão de 1982 (?). No passeio adjacente à Esquadra da Policia de Alcântara, a funcionar ali ao lado da Promotora, frente ao Galão, passeavam-se os alfacinhas por ali residentes, gozando um fim de tarde estival de mais um Domingo.
O velho carro patrulha que servia a área rodava, pachorrento, na Rotunda de Alcântara, Avenida de Ceuta fora. Os três policiais iam lançando uns olhares vigilantes pelas escarpas do Casal Ventoso, quando são abordados por um popular que os informa que um burro deambula mais à frente, em plena avenida, perturbando a circulação.
O Diogo, que chefiava a viatura, perante o caricato da situação, já que o animal não seria propriamente um cadastrado e não vislumbrava imediata solução para o caso, procura aconselhar-se junto da Central Rádio do Comando:
- Que faço ao burro?
A resposta ouviu-a, confuso, pelo pequeno emissor/receptor:
- Leve-o para a esquadra e entregue-o ao graduado de serviço!
Dito e feito. Um dos elementos apeia-se da viatura, salta para cima do burrico e, com mansas palmadinhas, vai-o conduzindo pela Rua de Alcântara, em direcção à esquadra.
Por esse tempo, já as novelas brasileiras dominavam a televisão lusa. Sucediam-se os episódios duma telenovela em que era figura proeminente o Perfeito de Sucupira. Dias antes, o Odorico havia decretado o uso de fraldas pelas alimárias.
Enquanto aquele elemento conduzia o jerico, o carro patrulha, na retaguarda, em marcha lenta, tipo escolta, foi seguido por uma pequena multidão, maioritariamente composta por jovens, que não queria perder pitada de cena tão inédita, e que davam àquele quadro um ar festivaleiro.
E foi assim que o burrico, já no Largo do Calvário, após largar dois ou três zurridos nervosos, foi preso a uma acácia, bem junto à sentinela policial, por entre gargalhadas sonoras de passantes e dos frequentadores dos bares da zona, que iam clamando:
- Foi apanhado sem fralda!...
- Vai pagar a multa, que é para não ser burro!...
- O Governo Civil também decretou a cueca!....
E não faltou quem o alimentasse, à fartazana. Até a pastéis de nata teve direito, tão ilustre presidiário!
E era já noite quando o dono, entretanto detectado, depois de um afago amigo no cachaço do bicho, o levou Calçada da Tapada acima.
E lá foram os dois abanando as orelhas, cada qual pelas suas razões....