A Guerra do Ultramar, A Guerra Colonial, A Guerra de Libertação.................Cá fica o vídeo do 1º Episódio, sob o tema debatido no Prós e Contras. Mas, já agora, porque, como era inevitável, o programas, e a sua essência, já está a provocar as naturais e legítimas reacções, vou adiantar algo mais.
No site da Guerra do Ultramar, Colonial ou de Libertação, como lhe queiramos chamar, que eu considero ser o mais completo e abrangente da net, no seu âmbito,(http://ultramar.terraweb.biz), os diferentes pontos de vista dos ex-combatentes já começaram a evidenciar-se. O que é perfeitamente natural e respeitável.
Só me exasperou a posição de um ou dois dos "comentadores" que, numa visão superficial e redutora, entendeu desancar nos "cantineiros do mato", como se fossem eles os mentores do colonialismo, o odioso de toda aquela guerra!
Eu conheci centenas de cantineiros espalhados pelos lugares mais recônditos do mato de Cabo Delgado. Conheço a vida que levavam, perdendos os anos na solidão da selva (provavelmente, em iguais condições de vida dos militares que por lá passaram dois anos, sem dar um tiro). Sei que, no seu seio, como em tudo, havia gente honesta e desonesta. E sei, também, do quanto, muitos deles, foram mais do que "pais" para os militares que por lá andavam e passavam.
(Seria o mesmo eu, agora, desancar no Jerónimo Martins, Belmiro de Azevedo e quejandos, pelos lucros que auferem nos seus supers e minimercados, culpando-os da crise económica e do aumento do custo de vida que o país atravessa!....)
Como se os verdadeiros "exploradores" e os que mais lucravam com o propalado colonialismo fosse aquela gente, a fazer pela vida, grande parte sem dela usufruirem qualquer qualidade. E sei como, muitos deles, pagaram com a vida e com os seus bens o arrojo de viverem no mato, isolados, longe de tudo e de todos!
Foi motivo bastante para que o meu comentário àquele programa da RTP1 (Prós e Contras) se desviasse do cerne da questão. E saíu-me este, que transcrevo:
Face às avalizadas opiniões já aqui expressas, pouco mais teria a acrescentar, a propósito deste tema. Revejo-me nas perspectivas da maioria dos que me antecederam nos comentários, mormente as opiniões esclarecidas dos primeiro e último intervenientes: o Vitor Baião e o António Cadete. Não deixei foi de, pela leitura que fiz de algumas intervenções aqui postadas, de reforçar a convicção que já ia tendo, passe a assunção de que são respeitáveis todos os pontos de vista pessoais, do divisionismo que grassa no seio dos ex-combatentes, com reflexos, dificilmente sanáveis, nas suas organizações representativas. Esquecemos o essencial, as dificuldades por que, na maioria, passámos e da nossa dádiva à Pátria, quando deviam ficar para outros patamares de discussão a justeza ou injustiça daquela Guerra. Quando, até, se lê por aqui terem sido os "cantineiros" o odioso daquele conflito armado, podemos bem aquilatar do disparate que grassa nas mentes de alguns ex-combatentes. Como se alguém, minimamente informado, pudesse "descobrir" nos cantineiros espalhados pelo mato moçambicano, os verdadeiros colonialistas!... É uma visão redutora, injusta, verter nessa gente o ferrete duma guerra. Como seria, alguém alijar esse labéu naqueles desonestos militares que, sem escrúpulos, vendiam, em proveito próprio, a esses mesmos "cantineiros do mato", o azeite, as batatas, o bacalhau, o gasóleo...destinado à logística das suas unidades! Perdemo-nos com o acessório. O essencial radica, como sempre defendi, que a descolonização era inevitável. Falhou foi, duma forma trágica e lesiva da consciência colectiva, no tempo e no modo, porque, essa inevitabilidade que já todos, ao tempo, reconheceríamos, não pressupunha nem apontava para a forma atabalhoada, sem honra e sem vergonha, como lhe demos desfecho, à revelia do sentir das populações. Sem qualquer pressuposto democrático, num país que, desde o 25A vem enchendo a boca de Democracia. Pior, bem mais humilhante, será a forma aviltante como o Poder instituído, o mesmo que legisla e decide em nome da Pátria, tem tratado os ex-combatentes, os tais que lutaram em nome dessa mesma Pátria (os Poderes mudam, mas a Pátria é a mesma!...), os portugueses de sempre e os que o eram nos territórios hoje independentes e que terceram armas, sofreram e tombaram bem ao nosso lado, fosse qual fosse a pigmentação da sua pele. E, com os divisionismos já atrás aflorados, errando os alvos, estamos claudicando perante aqueles que não sabem, ou não querem, reconhecer a dívida que o Estado tem para com os seus servidores que sofreram, na carne e na alma, no cumprimento de uma missão que a Pátria lhes impôs!
Saudações, combatentes.....todos!