Quem estiver minimamente atento ao ciclo que vivemos, não saberá como contornar as inquietações que nos vão assolando, em catadupa.
Inquieto-me, por exemplo, por saber que num momento de reconhecidas dificuldades económicas e em que nos são exigidos sacrifícios extremos, o Ministério da Justiça, haja entendido por bem não enjeitar exageradas mordomias e reforçar a sua frota automóvel com autênticas "bombas", de custos só acessíveis, neste emagrecido Portugal, a umas dezenas de bafejados pela sorte ou a padrinhos das máfias, já globalizadas.
E mais me inquietou a justificação do ministro da tutela ao "desculpar-se" com o facto de ter o aval do seu confrade das Finanças. Ficámos, assim, a saber que seria este o único obstáculo à aquisição das "bombas"; não a nossa calamitosa situação económica e social! Mais ainda, que, uma vez a concordância deste ministério que não nos perdoa nos impostos, o nosso ministro desertor, até se podia equipar, para seu conforto e dos seus correlegionários, com uma frota de aviões!
E é a problemática em torno do futuro pouso dos aviões outra das minhas inquietações: são, a terem crédito, as noticias de que, a todo o custo, seja qual for o rombo no nosso orçamento, o Governo faz finca pé na opção Ota, para o que já iniciou o processo de descredibilização dos estudos que apontam para Alcochete.
Não que a localização, enquanto tal, me incomode. Ota ou Alcochete, é-me indiferente.
Mas, sendo fiável, como parece ser, a conclusão de que esta última escolha nos pouparia muitos milhões e colheria vantagens de funcionalidade, inquietam-me as razões que estarão a pesar no prato Ota da balança.
Sabendo nós que esta opção havia sido, há vários anos, tomada pelo executivo(que não o actual), ainda que pouco haja extravasado dos corredores da Gomes Teixeira, seria alívio para esta inquietação saber, a bem da transparência e da confiança, quem são os proprietários que, após esse sinal daquele Governo, se apressaram a adquirir terrenos no proposto local da construção (Ota) e zona envolvente! Era um acto de Justiça.
Justiça que, esta sim, me inquieta bem mais, chega mesmo a assustar, pela propalada tentativa de tutela dos juízes e, por consequência, dos Tribunais, por parte do Executivo. Inquieto-me, e assusto-me, porque, após mais este passo, que mais ninguém se ufane de viver em democracia.
Já basta, e até será demasiado poder, a tutela absoluta governamental das policias de investigação criminal!
Sujeitar os juízes (e os Tribunais) a uma dependência governamental, tratando-os como meros funcionários públicos subalternos do Governo, seria decretar a agonia do estado de Direito, asfixiar a Democracia, aquela menina que tantos bajulam, mas que não se preocupam em salvar quando ela já vai esbracejando na tentativa de evitar o afogamento!