... ou deformações nos relatos pela subjectividade dos narradores?
Tem-me despertado interesse a leitura dos livros da colecção "Os anos da Guerra Colonial", colocados à venda uma vez por semana com as edições do C.M. Obra da autoria dos ex-capitães Matos Gomes e Aniceto Afonso, que não deixa de, globalmente, ser trabalho historicamente interessante, quanto mais não seja para informar e esclarecer dos contornos duma guerra de anos, que muitos vivemos, enquanto combatentes, filhos, pais, mães, esposas, não deixo de me deparar, aqui e ali, com imprecisões de fácil comprovação, e outras situações a necessitarem de "filtragem".
Refiro, a título de exemplo, a referência inserta na pág. 109 do Livro 5, que transcrevo na parte que interessa:
"...
Mas a sua acção mítica fundacional, e tida pela própria organização como a marca do início da luta armada, deu-se na noite do dia seguinte, com o ataque ao posto administrativo do Chai (Cabo Delgado). Chai encontra-se a apenas 10 Km da fronteira da Tanzânia, e um destacamento de 12 guerrilheiros..."
Admitindo que seja "gralha", pois que não sabendo por onde andou Aniceto Afonso, o outro autor, Matos Gomes, comandou uma Companhia de comandos que operou naquela região de Moçambique, sei, e saberá quem se der ao cuidado de consultar uma carta com escala, que, em linha recta, do Chai ao Rio Rovuma, fronteira natural com a Tanzãnia, distam
118 Km. Outro facto que me suscita muitas dúvidas, porquanto todas as versões que conheço, de ambos os lados do conflito, apontam para uma emboscada em itinerário exterior à Missão e em que o "Land-Rover" do padre Daniel terá sido confundido com a viatura do administrador, e não um ataque directo à dita Missão, como se depreende da leitura da obra: "...
assaltaram a missão de Nangololo, assassinando o padre católico holandês Daniel Boormans e ferindo o moçambicano Ernesto Dinagomo."
Bem eu venho defendendo que, sem desvalorizar os seus suportes, tudo o que se ouve e lê necessita de filtragem, para que a a informação seja mais límpida.