Mudei-me para:

Mostrar mensagens com a etiqueta explosivos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta explosivos. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ao "Deus dará..."


Não sendo, por obra de feliz acaso, muito frequentes, vão-nos chegando noticias de acidentes com explosivos, quase sempre com vítimas e danos materiais em edifícios e outras estruturas nas zonas envolventes aos sinistros.
O último, ocorrido numa estrada da região de Cinfães, deu-nos a conhecer, a serem fidedignos os pormenores relatados, no mínimo, a mais um caso de pura negligência ou falta de profissionalismo do pessoal envolvido no transporte daqueles produtos.
Sem recorrer a linguagem muito técnica, vou deter-me um pouco em factores que levem à compreensão do comportamento desses compostos de uso civil, imprescindíveis para extracção de rochas e trabalhos de obras públicas de diversa natureza.
Estes explosivos, propriamente ditos, os gelatinosos (vulgo "dinamite"), ou pulvurentos (vulgo "Anfos"), só por si, não representam, em termos de transporte, perigo de maior. Isoladamente, a sua detonação inesperada e fortuita dificilmente ocorre, não obstante não se poder, liminarmente, afastar tal hipótese. Sem aconselhar que alguém o faça ou experimente, na sua maioria, e em quantidades reduzidas, nem lançados ao fogo "explodem".
Essa função de estímulo cabe a uns dispositivos, estes sim de elevada sensibilidade (ao choque, à fricção, a descargas eléctricas e à chama), conhecidos por detonadores.
Objectos metálicos, de reduzidas dimensões, têm um invólucro (os mais vulgares, "pirotécnicos") por pequenos tubos cilíndricos de alumínio (para obras de céu aberto) ou de cobre (nas antigas minas de carvão); outros, com uso mais actual, são os detonadores eléctricos, com a mesma função dos mais primitivos.
No interior desses pequenos cilindros existe uma pequena carga - ignidor, iniciadora e de base - em que se realça o fulminato de mercúrio, esta, sim, uma substância altamente sensível e que pode ser activada por um simples choque, chama ou fricção.
São estes detonadores que accionam a onda de choque produzida pelos explosivos (o "dinamite", como é, vulgarmente, conhecido).
Logo, só é aceitável a junção de "detonadores" com "explosivos" no acto de aplicação no local dos trabalhos e nunca na sua armazenagem e transporte.
Para obviar a ocorrência de acidentes, como o mais recente, de Cinfães, a legislação que regula a matéria, como regra geral, não permite o transporte em conjunto de ambos os produtos, só o admitindo desde que a viatura, fechada, disponha de compartimentos estanques e com separação tecnicamente capaz de evitar que a fortuita activação dos detonadores provoque a detonação dos explosivos.
Prevê, ainda, o transporte de pequenas quantidades - normalmente, até 50 Kg -, em paióis móveis, que são caixas de madeira, com compartimentos individuais, construídos de forma resistente, estanque, revestidos por uma liga metálica não geradora de campos eléctricos e com bom isolamento, com a mesma finalidade de segurança das divisórias nas viaturas de transporte.
Em veículos de caixa aberta e sem recurso a estes paióis móveis - com os detonadores e os explosivos no mesmo ambiente -, como parece ter sido o caso reportado, é que nunca!
Estou a lembrar-me dum triste acidente do género, há alguns anos, na região de Alijó, em que dois indivíduos deslocando-se no interior da cabina e que transportavam no veículo de caixa aberta detonadores e explosivos, destinados a surriba de vinhas, perderam a vida numa explosão provocada pela ignição dos detonadores, julga-se, provocada por uma "beata" de cigarro lançada pela janela por um deles.
Assim, a crer nas informações difundidas pelos órgãos de comunicação social, o "acidente de Cinfães" só pode ter ocorrido por manifesta falta dos requisitos de segurança e grosseira negligência, por provável e perigosa rotina de quem transporta e opera com estas matérias perigosas.
E, convenhamos, por mais que provável falta de fiscalização no terreno, por ausência ou falta de meios humanos e materiais, das entidades a quem cabe zelar pela segurança nesta área de actividade, ao que acresce uma legislação pouco esclarecida e mesmo confusa e à diminuta sensibilização e pedagogia junto dos operadores destes produtos.
Confia-se demasiado na sorte, nas boas estrelinhas do "Céu", num país "ao Deus dará...", de tal forma que até o ateu mais empedernido se interrogará se não será aquela divindade suprema quem tem evitado situações mais calamitosas e acidentes deste género mais frequentes.