... a caminho de Alcochete.
Sem qualquer hipocrisia - uma ferramenta tão querida dos nossos políticos -, bem no íntimo, custa-me a crer que José Sócrates tenha, de forma intencional, directa e pessoal, a ver com as luvas que alguém terá calçado com a aprovação do Freeport.
O homem que eu, na sua faceta política, considero arrogante, picareta falante e de linguagem belicista, com uma postura nas raias do autoritarismo e com tiques narcisistas frequentes, pode ser um governante incompetente, mas, ou sou mesmo um ingénuo militante, ou não lhe reconheço qualquer perfil de corrupto.
E por menos simpatia que tenha pelo homem, não alinho, nem compreendo que alguém o faça, com teses de justiça de sarjeta, julgando por convicção própria ou porque entenda que o facto de se ser político tem implícita a falta de selo da honestidade.
A investigação está a decorrer e dispenso-me de reflectir sobre os factos concretos que vamos conhecendo através da comunicação social. Com maior ou menor dificuldade, os investigadores saberão estar à altura das suas responsabilidades, por mais limitados que sejam os meios técnicos e manterias que lhes são postos à disposição.
Mas,como alguns treinadores de futebol, a táctica de Sócrates, como reacção às notícias que lhe chamuscaram a imagem par via de familiares, foi a de que "a melhor defesa é o ataque". E não perdeu tempo: mal se terá apercebido de que as notícias eram irreversíveis e o caso ficaria com estatuto de nudismo público, reagiu, procurando a estratégia da vitimização, a tal árvore que tem produzido suculentos frutos para o partido da rosa.
Defender-se - sem que ninguém, oficialmente, o haja acusado -, acusando que alguém despoletou ou ressuscitou o caso Freeport para o prejudicar pela proximidade dos actos eleitorais,ao mesmo tempo que pedia celeridade da justiça, é que não faz mais sentido algum que não seja a aludida vitimização.
E porquê? Porque, nem a ele nem ninguém surpreenderá, a comunicação social informou, no caso vertente, de algo que já era facto real e concreto; a investigação já decorria quando os media (alguns) entenderam trazê-la a público. Como, aliás, trazem a público as notícias que os diversos departamentos governamentais lhes fornecem, com abundância, das propaladas "benfeitorias" governamentais.
A Comunicação Social, no seu todo, não tem contrato exclusivo com o Governo, nem pode ser uma versão alargada do Diário da República. Faz mesmo, mal ou bem, jornalismo de investigação, para desencanto de muitas esferas do Poder.
Sendo assim, o ataque de Sócrates quanto à "coincidência" das investigações com o ciclo eleitoral, só poderia ser dirigido ao Ministério Público, aos órgãos de investigação criminal. O que, no mínimo, seria uma pressão inconcebível, como inconcebível será exigir a esses órgãos celeridade nas investigações quando sabemos da propalada falta de meios do Ministério Público para a investigação dos crimes económicos e afins, nas palavras do próprio Procurador-Geral e duma certa fragilização dos meios e poderes da Policia Judiciária ocorrida nos últimos anos, segundo o seu porta-voz sindical. E é o Governo que chefia quem tem a responsabilidade de lhes fornecer esses meios!...
Andou mal, mais uma vez, o Primeiro Ministro, ao alinhar em mais uma teoria da conspiração, ao invés de aguardar, serenamente, pelas investigações e conclusão do inquérito.
Mais avisados estiveram, até agora, os partidos da oposição. Não se deixaram tentar pelo linchamento político do seu principal adversário, não fornecendo lenha para a fornalha da vitimização.
E, como sempre venho dizendo por aqui:
deixem a Justiça trabalhar!