Não nutro qualquer simpatia, ou antipatia, pela ETA, nem tão pouco conheço o cerne da sua luta, das motivações políticas, como não domino, suficientemente, o contexto histórico das suas aspirações independentistas.
Não pactuo, e até repudio, com acções que provoquem vítimas, sobretudo quando estas não são "tidas nem achadas" na contenda.
Da justeza dos fins perseguidos pelo Povo Basco, não será a nós, portugueses, que cabe decidir.Enquanto Estado soberano compete-nos, sim, investigar, perseguir, punir, actos perpetrados em território nacional que configurem "crime", à luz da nossa Lei vigente. Sejam os autores portugueses, chineses, brasileiros, espanhóis......tenham a nacionalidade que tiverem.Para além disso, e não havendo mandados internacionais legítimos, não é razoável, nem entendível, que se persigam (gratuitamente) cidadãos em solo nacional, seja qual for a sua origem ou ideologia.Muito menos, por ser contraproducente, posso aplaudir espectáculos mediáticos em torno de hipotéticas uniões policiais persecutórias, tendo por alvo grupos ou facções que não pratiquem actos de delito em solo português.
Acena-se, como justificativa, a activa participação francesa no combate directo às ETA, esquecendo que a França, no vector político do problema, é parte interessada, pois que, como sabemos, a propalada "Nação Basca" abrange território daquele país.
Antes de continuar, penso ser interessante reflectirmos sobre o conceito de "grupos terroristas".... é que os chamados "terroristas" de Hoje podem ser os heróis de Amanhã.....conheci alguns que matavam indiscriminadamente e sem aviso e a quem, agora, muitos perdoam o "terror" e, até, o justificam...
Mas, regressando aos carris da ETA....o que, pessoalmente, venho notando é uma subserviência inusitada dos nossos governos a Espanha, a par de alguma sobranceria daquele Estado.
Estou a lembrar-me do monstruoso atentado nos comboios espanhóis, com a chancela da Al-Qaeda. Naturalmente, foi um acto que gerou repulsa e bem justificada solidariedade para com os nossos vizinhos.O que já estranhei foi, a crer no que fui lendo na comunicação social, do aproveitamento feito pelas autoridades espanholas no sentido de pressionarem as policias portuguesas a exercerem um controle mais "apertado" sobre os explosivos (e que terá mesmo dado aso a reuniões entre policiais em solo do país vizinho).Estranheza tanto mais justificada, quando todos ficámos a saber que o explosivo utilizado em solo espanhol, de tipo gelas e com a designação comercial "GOMA 2EC", foi adquirido naquele país. É, aliás, produto fabricado em Espanha.Seguiu-se, por parte da PJ do Porto (ainda que, legalmente, caiba à PSP o controle de explosivos no nosso país) sobretudo na região norte de Portugal, a uma autêntica caça aos explosivos, em pedreiras e outras obras, onde é aplicado em fins legítimos, no rebentamento de rochas.
Conforme fomos lendo nos jornais, períodos houveram em que, quase diariamente, empresários da construção civil, exploradores de pedreiras e actividades afins eram constituidos arguidos por estarem de posse ou a utilizar a tal "GOMA "EC", só porque não respeitavam uma ou outra norma regulamentar, quando, em situações normais, e à luz dos regulamentos, ao "delito" correspondia uma coima, por contra-ordenação (falhas no armazenamento, na utilização...e quejandos).E o argumento policial (PJ, fonte da notícia?...) era, quase invariavelmente,.."constituído arguido.......apreendidos explosivos GOMA 2EC.... um perigoso explosivo da mesma marca dos que foram utilizados nos atentados de Espanha....".
Até Hoje, não se provou que, em alguma circunstância, explosivos oriundos de Portugal hajam sido utilizados em acções violentas no país vizinho!...
São, aliás, por acaso (ou nem tanto...), empresas espanholas quem domina, actualmente, a maior fatia do comércio de explosivos em Portugal!...
Foquei estes factos na medida em que deles se infere a "nossa" subserviência aos desígnios dos nossos vizinhos.
Arvorarmo-nos, agora, em assumidos paladinos da luta contra a ETA, com a formação das tais "equipas policiais mistas" seria envolvermo-nos em questões políticas que nos são alheias e que mais estranharíamos num período em que, internamente, se dá a imagem de falta de meios humanos e materiais que nos impeçam de soçobrar perante o proliferar de bandos armados que assaltam bancos, gasolineiras, ourivesarias, farmácias, e assassinam para roubar ou por guerrilhas de concorrência entre gangs ou actividades obscuras e marginais. Temos tudo isso, aqui à nossa porta!....
Ou será que - agora, sou eu a especular! - , enquanto o "Povo Basco" se procura emancipar, alegadamente, libertar-se do jugo espanhol (sejam ou não justas as motivações histórico-políticas), por outro lado, estamos nós a ajeitar o pescoço para a canga de que nos libertámos há séculos.....com muito vigor, mas extrema dificuldade?