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sábado, 29 de setembro de 2007

Santanice...



Reconhecendo a força indutora das televisões junto do Grande Público, quais janelas abertas para o Mundo, considerando mesmo que uma pequena fatia da sua programação se reveste de cariz de serviço público, penso não termos motivos para nos espelharmos na sua difusa transparência e periclitante credibilidade.
Dão-nos continuados sinais duma incessante procura de imediatismo bacoco e descarado, com evidentes preocupações economicistas (imitando o Governo?), com o objectivo primeiro da manutenção das quotas de publicidade, que as sustenta. E é o futebol, são os escândalos do quotidiano, noveladas e quejandos, as meninas dos seus cofres.
E, mesmo o esbanjador canal público, por todos nós custeado, parece não estar imune a essa voracidade das audiências: bem nos lembramos, com natural apreensão, do inesperado corte da imposição de condecorações por parte do Presidente da República às figuras que, de algum modo, mereciam destaque e reconhecimento públicos.
Também não deixamos de nos interrogar se é positivo o seu contributo para a formação dos jovens, quando, em horário nobre - o chamado "tempo da família" -, assistimos a programas de violência gratuita e com outros conteúdos de discutível qualidade, quando os espectadores-alvo são, afinal, crianças a "gatinharem" a sua própria personalidade.
Somos, na actualidade, com sobejas razões, um Povo crítico dos políticos, no seu todo: pelo seu desempenho e dúbios comportamentos. A consciência nacional, que, espero, ainda se não desvaneceu de todo, não deixará de os julgar, e vem julgando, no tempo certo e local próprios.
Gostemos ou não de Santana Lopes, não pode um canal televisivo ser o braço justiceiro da franja da Sociedade que não morre de amores por este político, ex-Primeiro Ministro!
E interromper uma entrevista para que o convidaram para meterem no "embrulho" a chegada dum treinador de futebol (por mais milhões de libras que traga no alforge), por mais prestígio desportivo que haja granjeado por terras da Rainha, é, no mínimo, uma humilhação para o convidado, para além da falta de respeito por aquele e pelos espectadores que acompanhavam a entrevista!
Haja coerência e dignidade. Não façam de nós, enquanto espectadores, um rebanho de pacóvios, sempre dispostos a comer fardos de futebóis, noveladas e outra palha congénere, que nos servem, a granel, no estábulo do ecran!....
Assim, por mais controverso que seja este político, só me resta aplaudir a atitude de Santana Lopes. O seu gesto foi de coragem, de pundonor. Acredito na tese de que todo o indivíduo é sujeito de defeitos e qualidades...
Que, ao menos, sirva de exemplo ( e vergonha) para todos aqueles que passam o tempo a babujar à porta das televisões, ávidos de uma entrevistinha que, por qualquer modo, os promova, e que se sujeitam à humilhação dos desmandos omnipotentes destes figurões da Imagem!

E que sirva para uma reflexão profunda por parte dos responsáveis dos principais canais televisivos deste País!



domingo, 23 de setembro de 2007

Tão perto....e tão longe....

Para além do rincão das Beiras, de Viseu a Lafões, e pouco mais, o Portugal que havia conhecido, quando, no final de 1974, "retornei" ao país onde nascera, era o dos mapas escolares, o dos rios e vias férreas, forçosamente decorados até à exaustão.
Tivera a dita de, 27 anos antes, haver despertado para a vida numa região de Natureza bela, em zona em que o vale abraça a serra, no verde serpentear do Vouga em ambiente rústico de sonho e algum romantismo.
A partir dos anos oitenta, condicionalismos de ordem profissional levaram-me a percorrer o País de lés a lés, do Minho ao Algarve, do Mar à Montanha. Por várias vezes, tive o ensejo de conhecer cidades, vilas, aldeias e os mais remotos lugarejos.
Tanto como as paisagens que me iam surpreendendo, conheci gentes da nossa gente e o palpitar do seu viver e sentir. Percebi.lhes a simbiose.
Conheci Portugal! Como se houvesse realizado uma nova Descoberta. Descobri um Portugal belo, com uma Natureza de contrastes e encantos próprios, descobri um segmento humano muito diversificado, mas pujante de vida.
Não sabem, em especial, muitos dos urbanos empedernidos, da riqueza ambiental que lhes fica tão perto, à distância dum correr de cortinas por abrir!
Não sabem aqueles esbanjadores de milhares -muitos, até se endividam -, que estão buscando bem longe o que poderiam desfrutar bem perto; que procuram desvendar o desconhecido em terras longínquas, sem ousarem conhecer o mistério e fascínio das terras que são suas.
Sem lamechice nacionalista, nem olhar o próprio umbigo. É a visão pragmática de quem teve a dita de conhecer os recantos do nosso Portugal e parte da premissa que a maioria dos seus compatriotas vira a última página do seu calendário de vida conhecendo a Tailândia, Cuba, Serra Nevada, Punta Cana........Marbella....., sem que houvesse conhecido os lugares belos, bem à sua porta, no seu próprio quintal.

Como os lamento!

Alguns "testemunhos" por mim editados.....para memória futura:

e outros que postei no SAPO: (Clique, p.f)

http://videos.sapo.pt/vqsrFytvw9APeEublnif

http://videos.sapo.pt/uRpGIqBzSD9CQINZjR00

http://videos.sapo.pt/ckEz2vZdwkfsMSTKkCFk

http://videos.sapo.pt/QryjptAEWjDazZu0PTWG

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Desporto de Milhões......




Não posso negá-lo: continuo a gostar de Futebol.
Passada que foi a breve prática dessa modalidade, não se esmoreceu o entusiasmo por esse desporto. Dá-me gozo assistir a um bom desafio, apreciar as boas jogadas.
A milionária demissão do Mourinho, as constantes "transfegas" de craques de um emblema para outro, com os milhões à mistura, levou-me tomar consciência, por comparação, de quão diferente é o Futebol de Hoje.
Onde está aquele amor à camisola, aquele vibrar de alma pela equipa de cada um? Aquele prazer único de jogar por jogar, por gostar, por sentir um apetite de entranhas por competir?
E recordo aqueles tempos idos dos anos sessenta em que os Domingos, nas aldeias, vilas ou cidades, eram, para além do dia da Missa (rsrsrsr...), o sagrado dever da "Bola".
E foi nesse cogitar que me lembrei destas fotos e, dum modo muito especial, de toda aquela rapaziada com que partilhei, todos de forma gratuita mas apaixonada, vibrantes futeboladas de Domingo!
Lá está a equipa estudantil do Colégio de Vouzela e a, sempre aguerrida, equipa de "Os Vouzelenses".
Era no tempo do Desporto pelo desporto, ainda longe desta Era do Desporto pelos Milhões..........

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Lourenço Marques/Maputo


Nas minhas digressões regulares pelos "sítios" da Net, relembrei Lourenço Marques, actual Maputo, capital de Moçambique.
O pedaço da minha vida naquela terra enraizou-se, sobretudo, no Norte, por terras macuas. Considerei-me sempre um "bicho do mato". Circunstancialismos de ordem profissional - a vida de saltimbanco administrativo -, e familiar (os meu pais viviam numa vila do interior de Cabo delgado), não me permitiram uma vivência substancial nas principais cidades, passe o facto de ser Porto Amélia a minha "base de apoio", sempre que me era possível ou necessário.
A capital conhecia-a em Agosto de 1968, quando uma guia de marcha me fez seguir de Balama (na zona de Montepuez), para a cidadela militar de Boane.
Durante cerca de 10 meses, os fins de semana eram, inevitavelmente, passados naquela cidade grande, que recordo muito limpa, arejada, de amplas artérias, desenhada a compasso e esquadro. Para essa agradável contestação, o tempo foi mais do que suficiente.
Mas não é só na policromia das acácias, na beleza estética das avenidas e do betão, que um homem se completa. E, mais por culpa da minha juventude introvertida, talvez, ensimesmada, do que pela sociedade local, nunca cheguei a integrar-me, a conhecer, na vertente humana, aquela índica cidade!
Para além de meia dúzia de companheiros, como eu deslocados naquela urbe, para cumprimento de obrigações militares e um ou outro ali residente, que partilhavam os convívios informais dos dias de descanso, não conheci mais ninguém, nem, que soubesse, por lá tinha familiares .
Assim, numa exploração quase solitária, ia passando as horas pelo Nacional, pelo Piri-Piri, numas geladinhas no Continental ou no Bar do Negresco, nuns passeios por Malhangalene, numas "voltas" pela Baixa, nuns filmes no Manuel Rodrigues (o César Rodrigues era meu companheiro em Boane), num "piscar de olho" às bifas na Costa do Sol....e nos inevitáveis raids pela Rua do Nosso Major.....no Pinguim, Luso e quejandos......e umas "visitas à Pensão Nini (?) lá para as bandas da Polana, quando haviam mais umas notas na depauperada bolsa!......
Passe a lacuna da deficiente integração no ambiente social laurentino, bem me sentiria se por ali continuasse até ao fim da minha "guerra", que de lá me devolveu ao Norte, não de calção e camisa "casca de ovo" (rsrsrsr..) como ali chegara quase um ano antes, mas espartilhado num camuflado fruta-cores!
E é porque também ali fui feliz e aquela bela cidade ficou a fazer parte do meu roteiro de vida, que sinto prazer em revisitá-la através destes "clips", com imagens daqueles tempos e mais recentes:

http://videos.sapo.pt/NgGiCEyssSD96YM3JM9A

e:




domingo, 16 de setembro de 2007

De recurso em recurso, até........

Não é pacífica a doutrina do novo Código de Processo Penal, já em vigor. Para gláudio dos que fazem modo de vida "tramar" os outros (p. ex. o Cabo Costa e o brasileiro Marcos, assassino dos polícias na Amadora...) e desespero das vítimas, a nova Lei Penal surge envolta em incandescente polémica. Disso fazem eco comentadores e especialistas na área da Justiça.

Área da Justiça que tem ao leme um supremo Ministro, um dos "heróis" desertores da "Guerra Colonial" que, vendo partir os camaradas, preferiu colocar o próprio "canastro" a salvo. O que até poderá nada significar para a questão ora aqui aflorada....

O nosso P.R. aconselha-nos a "esperar para ver". Por mim, e a crer nas pérolas legislativas com que as ostras do Poder nos vão presenteando nos últimos tempos, nada de bom auguro. Pior, espero, sem o desejar, o agravamento da propalada inoperância dos nossos Tribunais - de que os magistrados serão os menos culpados -, e prevejo, e a curto prazo, nova escalada na insegurança dos descrentes cidadãos deste nosso cantinho.

Mas que ninguém se surpreenda ou escandalize: alguém tem interesse e retirará vantagens do descalabro da segurança e da justiça nesta nau que, há muito, perdeu a bússola.

E é essa a preocupação primeira de quem entende não ser forçoso "esperar para ver" diminuídos os direitos das vítimas e vê-los transferidos para os que vivem sugando a Sociedade em que não se querem ou não se sabem integrar.

Hoje é Domingo. Melhor será pensar em algo que me dê prazer. E tenho mais dois"clip", com imagens relaxantes.....e que evocam saudosos momentos:


quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Seu Scolari!




Scolari:
Não me considero peça do pote que promove treinadores e atletas de bestiais a bestas, anjo ou diabo que eleve heróis ao Éden do desporto, tal como, do mesmo modo e celeridade, os queima na pira de Belzebu.
Nem, tão pouco, o vou questionar pelas opções polémicas na formação do grupo que defrontou a Sérvia. Por mais evidente que seja a discutível inclusão de Deco no plantel, numa fase em que, manifestamente, este valoroso jogador passa por mau momento de forma; talvez dos piores que já lhe vimos.
A mensagem que lhe trago, em bandeja triste a acabrunhada, é a de que o Mister tem por missão seleccionar e treinar os atletas que representam o nosso País, com e sem bola. E se, ontem, estes o desmereceram em campo com a redondinha, foi o senhor quem o não respeitou fora das quatro linhas, sem ela!
Nada, nem o seu, provavelmente, justo azedume com o Merk do apito, lhe desculpará o agressivo gesto de que foi, para mau exemplo dos seus jogadores e vergonha de todos nós, protagonista, no final do encontro.
Nós, que ainda, com tristeza, recordamos Saltilho, nos lembramos do balneário destruído, do cartão surripiado ao árbitro, e vamos perdoando, pela atenuante juventude dos nossos atletas, bem dispensamos irracionais atitudes e o péssimo exemplo dum Mister de quem, pela sua maturidade e pergaminhos de campeão do Mundo, era suposto e legítimo esperar outro comportamento.
Deixe-nos com o amargo de boca dum resultado que bem poderia ser melhor, mas poupe-nos à vergonha de "insurras" com mau perder!....

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O dilema do polícia











Foi em 2005 que um agente da P.S.P. em perseguição de um cadastrado em fuga, o atingiu mortalmente, numa artéria de Lisboa.
Paulo Frade, o polícia, para além do processo crime que corre os seus trâmites nas instâncias judiciais competentes para conhecer do caso, encontra-se suspenso das suas funções, por 240 dias, sem direito a qualquer vencimento, por decisão da sua hierarquia.
O M.A.I., pelo braço da sua Inspecção-Geral, teria ido mesmo mais longe ao propor a sua aposentação compulsiva, o que - do mal o menos - a Direcção da P.S.P. não terá acatado.
Todos sabemos que os Códigos são frios, com normas concretas e impessoais, que balizam as medidas e actos dos polícias. É notório que, à luz dos Regulamentos, no concreto, o agente se terá excedido no zelo, no decorrer das medidas tendentes à detenção do cadastrado em fuga. Também não deixa de se ter em conta que os policiais não podem nem devem andar para aí aos tiros sempre que são obrigados a fazer cumprir as leis.
Porém, não deixaremos de especular que este agente não estaria nestes múltiplos apertos se não se empenhasse com tanto afinco em capturar o "bandido". Deixá-lo fugir, rumo à liberdade a que tinha perdido o direito, era, na perspectiva dos seus interesses, bem menos arriscado e muito mais cómodo...
Ainda todos nos recordamos do caso de Évora e de outros com contornos semelhantes.
E é aqui que se depara um dilema com repercussões preocupantes e perigosas: que empenho terão os agentes policiais em perseguir criminosos, proteger, na hora, as nossas vidas e bens, quando, à partida, sabem que, no momento em que se decidem fazê-lo, se estão a expor a desfechos como o ora tratado e tantos outros com iguais contornos?!
Mas. o que mais me confunde, na medida em que não é consentâneo com o meu espectro de justiça, é que o agente seja castigado ou punido (e a suspensão sem direito a vencimento é-o!), internamente, por órgãos sob a tutela do Governo, quando ainda está sujeito e aguarda o veredicto dos Tribunais, a quem cabe, em exclusivo, a administração da justiça.
Não me parece que o facto de haver (ou não!) excedido as medidas entendidas por necessárias e suficientes para a detenção do cadastrado, baleando-o, o configure como um perigo público, impossibilitado de continuar o exercício da sua função policial.



Afinal, qual deles é o polícia........qual deles é o bandido?








terça-feira, 11 de setembro de 2007

NAMPULA (MOÇAMBIQUE)

Bem gostaria de ter conhecido melhor Nampula, A Linda! Poucas vezes estive por lá e por breves dias.
Após o eclodir da guerra, nos anos sessenta, como centro nevrálgico do comando militar, com todas as estruturas materiais e humanas que uma máquina de guerra implicava, Nampula expandiu-se para lá do centro comercial e agrícola que já era e fez juz ao estatuto que lhe estava implícito: a capital do Norte de Moçambique.
Era, além do mais, o esmagador destino dos jovens estudantes de Cabo Delgado que pretendiam prosseguir os estudos para lá do patamar que lhes era oferecido na então Porto Amélia e era um entreposto comercial de relevo, procurado pelos comerciantes estabelecidos mais a norte.
Centro de um distrito com considerável área, diversificada, dispunha duma vasta costa litoral, onde pontuavam praias acolhedoras e portos de mar, com a histórica Ilha como farol.

Mais do que as palavras, valem as imagens que aqui ficam, como um abraço virtual àquelas terras de Gente Macua. À distância dum clic:

Também no SAPO, em:

NAMPULA - MO...

NAMPULA, A L...

e no YouTube, em:

http://br.youtube.com/watch?v=-8nEDaoUBNA

http://br.youtube.com/watch?v=T4WnepJKc8g





Ponderação?









O caso Maddie continua a dominar as primeiras páginas dos matutinos e a abrir os serviços informativos da Rádio e TV. Não há volta a dar-lhes!... Mantenho a desconfiança que nutro pelos ingleses, enquanto nação ciosa dos seus pergaminhos, sempre disponível para fazer alarde duma convicta assunção de povo escolhido, de padrão exemplar. Mas não confundamos: não é justo, nem humano que - por mera desforra mental -passemos a acusar, desde já, os pais de Maddie seja do que for, para além de os censurar pelo abandono dos filhos, enquanto jantavam. Por mais evidentes indícios que nos sejam dados a conhecer, eles continuam inocentes. Não me revejo em julgamentos populares, tantas vezes, alicerçados em factos de duvidosa consistência, não poucas vezes fabricados ou empolados por órgãos de comunicação com o objectivo de aumentarem as tiragens ou nível de audiências. Juridicamente, a condição de arguido, não é a de acusado, nem, muito menos, a de condenado. Prefiro confiar na Justiça e aguardar o seu veredicto que, por mais entorpecida ou falível que nos vá parecendo, é sempre bem mais fiável e justa do que apriorísticas condenações de rua.



O que espero bem é que este mediático caso não sirva de manto a processos que, enquanto cidadãos atentos deste país que é o nosso, se vão arrastando no tempo....e caindo, dispersos no esquecimento. Casos como os da Casa Pia, Apito Dourado e outros de elevada acuidade na nossa escala de valores, tão ou mais preocupantes que este da infortunada Maddie, não podem ser ofuscados por este de tanta luminosidade....ou artifical brilho!....



domingo, 9 de setembro de 2007

DOMINGO SOMBRIO


Mais um Domingo!
Para além do dia farrusco, do empate da Selecção, temos o folhetim "Madeleine", que seria novelesco, não estivesse envolvida a vida duma criança.
Foi raptada; foi morta, por malvadez, por acidente..... Não faltam palpites e orações de sapiência criminal, dos jornalistas, dos comentadores, do tuga anónimo.....mais preocupado em saber do destino da criança (talvez, menos por solidariedade e mais por mórbida curiosidade...), do que em saber do destino que está a tomar este país.
O caso Maddie, o futebol e outros ícones a que ajoelhamos de mente aberta, são uma dádiva, em forma de rendada cortina, para as medidas políticas, as manobras impopulares da área da governação. Não é Fátima, Futebol e Fado. É Maddie, Futebol e Vira de Viana!...
Do Caso Madeleine o que ressalta? Para mim, para além da genuína preocupação pelo que lhe possa ter acontecido, escancara-se, no decorrer dos dias que se seguiram ao drama, em montra bem transparente, aquele velho complexo de superioridade dos súbditos de Sua Majestade.
Nem me vou deter a justificar. Todos os que foram acompanhando a Imprensa e a opinião pública do Reino Unido, sabem do que estou a escrever.
Nada é novo, não me surpreende o térreo patamar em que os ingleses colocam Portugal na pirâmide de que se ufanam ocupar o vértice.
Numa perspectiva histórica, sempre desconfiei da propalada amizade, selada por Tratados, a que só nós nos sentimos obrigados. Eram tempos movediços para as aspirações britânicas e convinha-lhes o nosso apoio - e subserviência -, para melhor resolverem os seus antagonismos viscerais com o Reino de Espanha.
Nas questões de fundo, no cerne das verdadeiras alianças, fomos um par menor, atraiçoado sempre que os seus interesses e desígnios assim ditassem. Ou alguém se esquece do Mapa Cor de Rosa?
Fomos maltratados nestes meses do caso Maddie! Já hoje, ao visualizar o regresso dos pais da criança a Inglaterra e o aparato da chegada, com protecção policial, tratamento diferenciado e proteccionista, a ideia que perpassou foi de que o casal e as duas gémeas acabavam de ser resgatadas do Burundi, do Corno de África ou de outra zona de selvajaria ou guerra!
É assim que somos olhados pela mais antiga democracia do Mundo, lá do alto das suas predestinadas ilhas.....
Do que, convenhamos e deixo bem vincado, a infortunada Maddie nenhuma culpa terá.....

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Porto Amélia/Pemba



... Nas tardes quentes, depois de dum caril de caranguejo ou duma simples omeleta de espargos no Pólo Sul, generosamente regados por uma Laurentina bem fresca, perdia-me nas horas, esquecia-me de tudo, enquanto contemplava a vasta Baía, ali bem aos pés, de águas serenas e pensativas.

Já mais tarde, após umas chamuças ou um picante sarapatel na esplanada do Monteiro, no refrescante parque da cidade, era inevitável um passeio mais demorado pela marginal, até Wimbe e Maringanha.

Era o retemperar de energias, à mistura com um sequioso sorver do gozo que a Natureza, nunca totalmente explorada, nos oferecia naquela cidade e zona envolvente, enquanto não regressava aos afazeres no mato, das quizumbas e dos "petromax" mas também de gente...

Porto Amélia dos anos sessenta e primeira metade da década de setenta, era o destino inevitável de quem demandava ou labutava em Cabo Delgado, nas mais diversas actividades. Cidade linda, que o Índico beijava, berço de dois dos meus filhos, ficou em mim, como a imagem nítida dum sorriso de futuro, dum sonho de vida.

O "despertar" desse sonho foi doloroso, mas ela, aquela jovem linda que me acolheu, agora Pemba, lá continua, esbelta e convidativa, terra com futuro, alheia à insconstante vontade dos homens....para lá do tempo....para lá do sonho......

Visitem-na comigo, nestas viagens imaginárias, à distância dum CLIC:


Hoje é SEXTA!

Rematando o tema que ontem aqui abordei, deixo a minha estupefacção pelo desencontro de informações relativas ao desfecho do assalto às ourivesarias de Viana. Estão detidos, não estão detidos.....está só um, não está nenhum!....

Organizem-se........e, sobretudo, falem verdade!

O Senhor Ministro da Adm. Interna, em debate no Parlamento, no seu discurso laudatório das FS, informou da captura do gang assaltante......... Estava de posse desses dados? Quem lhos transmitiu? A não estarem correctos...valha-nos S. Miguel Arcanjo......lá podem "rolar" mais umas cabeças.....



É Sexta-Feira! Com o fim de semana à vista, lembrei-me duns "contos" que andam por aqui esquecidos no baú dos tempos. Um deles, escrito em 1975, em pleno Verão Quente e após o "regresso das caravelas", tem por título "Floresta de Sangue!. Hoje, mais de três décadas passadas, dificilmente este conto teria os mesmos contornos. Como diria o poeta, "a gente cresce, cresce.....":


NOTA PRÉVIA

Escrevi este “conto” em Setembro de 1975.
O reduzido afastamento temporal dos factos narrados implicou um reviver de situações que passaram ao papel como quadro fresco, com as pinceladas de ficção mínimas, as bastantes para não identificar protagonistas, tendo em conta o melindre dos factos e perspectiva do narrador na época da publicação.
Admito mesmo que Hoje este conto teria outros cambiantes, ou não passaria mesmo da memória do autor.
Sem qualquer pretensão literária, reproduzo-o agora, em humilde dedicatória e com o pensamento nos que, de alguma forma, viveram ou se revêem nas situações narradas, em especial naqueles a quem a má fortuna não permitiu lerem estas linhas....

FLORESTA DE SANGUE

1971. Moçambique/Norte. Manhã de cacimbo fresco. Folhas de cajueiro velho, perdido na mata, choram gotas de orvalho na picada estreita de matope enrijecido pelas tardes quentes. Perto, aves sinistras lançam, a espaços, silvos irritantes por entre centenários embondeiros.
Nada mais se ouvia ao redor. A noite acabava fria, silenciosa e calma, não fora uma gazela atrevida infiltrar-se, em desenfreada correria, cortando o círculo, por entre as três dezenas de fardas negras que, em alvoroço, viram o seu fraco repouso interrompido, num bater de coração mais forte, num aperrar de armas tão nervoso quanto inesperado.
Era um novo dia que rompia, um novo dia que até nem contava. Era só mais uma data, apenas, para rapazes já homens, a quem o dever não permitia calendário de vida. O de morte também podia servir para a contagem indiferente de uma manhã que surge numa floresta sem horizonte.
O Comando havia sido claro na ordem que transmitira. Aquele grupo de homens, fracção duma força de combate estacionada algures no Norte de Moçambique, teria por missão interceptar um grupo inimigo, fortemente armado, que dias antes atacara e saqueara um aldeamento de nativos. O resto era com eles. A zona conheciam-na bem, os perigos não contavam e o medo não era o melhor conselheiro para quem queria conservar a “pele” naquela guerra traiçoeira onde, por vezes, era imperioso “dar” primeiro.
O alferes Carrilho que, com dois furriéis e enfermeiro eram os únicos europeus entre homens de rostos bronzeados, nados junto ao Índico, dava as últimas instruções ao grupo, antes da partida para o terceiro dia de marcha. Os sacos de campanha, acomodados sobre as fardas húmidas e sujas, haviam já sido aliviados de algumas latas de conserva de porco, gordurosas, que só o negro Manjate, fruto recente das Missões cristãs, comia. Os outros, por Alá, nem cheirá-las...
Mais leves, olhos já lavados no orvalho do capim alto, em fila espaçada, aproximavam-se já dum trilho batido, detectado na véspera pelo pisteiro Capoca, um recuperado à Frelimo, a que nada escapava. Por isso, lhe chamavam “o Perdigueiro”.
Ali mesmo fora decidido montar a emboscada. O inimigo, com o saque e elementos da população raptados, poderia escolher aquele itinerário para a retirada mais para norte, para recônditos e mais seguros refúgios, em região onde se pensava estar implantada a Base Manica. E, quando os cortantes raios de sol tropical já rasgavam as copas frondosas do arvoredo, os homens de negro, espalhados por entre os arbustos, aguardavam silenciosos. Esperavam na incerteza....mas esperavam. Afinal, aquela até era uma guerra de espera.....espera de um final que tardava em acontecer e o último capítulo daquela rude aventura de anos era uma assustadora incógnita....




O silêncio doía muito! Aquele “silêncio” era duro! Via-se no rosto do comandante. Ele próprio preferia gritar bem alto. Ouvir o eco da sua voz lançado pelos rochedos soltos. Queria gritar que não queria a guerra, mas que não tinha medo. Talvez para assustar esse mesmo medo. Queria não pensar em nada, automatizar-se, mas aquele marasmo de silêncio, que já durava horas, punha-lhe o cérebro mais desafinado que a barulhenta fanfarra do Batalhão.

Nada mais aconteceu naquele dia que desse outra cor àquele quadro vivo de corações enervados.
Com o cair da tarde, o alferes incumbe o Ferreirinha, um baixinho furriel europeu, quase no fim da comissão, da retirada para pernoita. Impunham-se cuidados especiais neste “mudar de sítio”: o local onde haviam pernoitado na véspora não servia. Nem em tal pensar! “Por o periquito nunca mudar de ninho é que lhe roubam os filhos”, dizia o Ubisse, um homenzarrão negro que não largava a metralhadora mais pesada do quartel.
E foi afastado da zona, o novo local de pernoita que, afinal, não era diferente: as mesmas árvores, o mesmo pouco céu, a mesma terra seca, os mesmos pássaros e, até, os mesmos semblantes sofridos do pessoal.

- Meu alferes, isto já não dá nada! Quase não há ração, a água é pouca e os “turras” já passaram por outro lado!
Este era o estribilho do enfermeiro Correia, um dos poucos europeus do grupo. Estribilho que, mais uma vez, ensaiou aos ouvidos do Carrilho, já habituados aos alvitres conselheiros do cola-adesivos lá da malta.
E, quando o alferes lhe retorquiu não se poder retirar sem a certeza de que o inimigo havia passado para norte, lá foi o Correia, coçando o barrete salpicado de mercúrio, embrulhar-se por entre as ligaduras e bebericar a água a que ele, para desinfectar, dizia, juntava álcool. Só que o mordaz Sacura afiançava que o Posto de Socorros estava quase todo na barriga do Correia!....




Eram já 10 da manhã do outro dia. Mais cinco horas eram já passadas daquele dia em nova espera. De novo o silêncio, de novo a quietude ansiosa de outra emboscada junto trilho adversário.
- Isto é demais, meu alferes! Que se lixem os turras! Já nem água tenho, quan do é que isto acaba? –sussurrava interrogativo o furriel Bazuca, um minhoto novato, dois meses antes largado pelo Niassa naquelas longínquas paragens.
- - Estabelece ligação rádio com o Comando, que eu quero falar com os gajos! – balbuciou o Carrilho, também já preocupado com aquela situação nada agradável.
E foi de abatimento o encolher de ombros agitado e discordante do grupo, quando se espalhou a resposta do oficial de operações.
- - Porra, mas quando é que a malta atinge o Rio Montepuez? Em vez de irmos para o Messalo onde eles se acoitam, vamos para sul? E se não encontrarmos água até lá? E o que vamos comer amanhã se a ração está a acabar?
Ninguém respondeu ao Correia, de novo a espalhar pessimismo, qual Velho do Restelo das selvas africanas.
Mas a ordem era para cumprir, estava acima de qualquer desabafo, era superior a qualquer dúvida ou rezinguice do pessoal. E, bem no íntimo, eles tinham a noção disso, mas aquelas “bocas” descontraíam e davam as energias que iam faltando.
Estava prometido o abastecimento hélio para a tarde do outro dia. Viriam mais umas caixas de alimentação pré fabricada.... A água, só por sorte se encontraria, a não ser quando atingissem o rio, para sul, razoavelmente caudaloso e onde, na anterior operação, o Capoca havia colhido um bom Kg de camarão. Ricos rios que até camarão davam! A malta até se imaginava os balcões da Portugália.....
A progressão era lenta, por perigosa. Por vezes, a indicação do “cinco” da frente, periodicamente rendido, o grupo abria em linha, metade para cada lado do trilho inimigo que seguiam, não fosse uma rajadas traiçoeiras, por detrás de um tufo de vegetação mais denso ou de uns rochedos soltos, surpreendê-los. Para triste e doloroso exemplo chegara o que, dias antes, acontecera ao alferes Marques, um jovem quase formado em Medicina, que se vira privado da perna direita, quase esfacelada.
Este tipo de avanço era difícil, mas necessário, e retardava um pouco o andamento que, em tais circunstâncias, não chegava aos dois Km por hora.
Eram já duas da tarde. O sol, na vertical, jorrava vagas de calor inclemente sobre os corpos suados. O Ferreirinha largava imprecações minuto a minuto, quando uma aborrecida micose lhe ardia ao roçar as calças de caqui.....e o sacana do Correia só levava mizórdias....acusava o furriel.
De repente, tudo pára. Num movimento sincronizado, qual grupo de bailado rítmico em estreia no Olímpia, todos se deitam, sem ruído, indicador a tremelicar, hesitante, junto ao gatilho. Mas não soaram tiros. O passa-palavra chegou depressa aos últimos homens que, já levantados, sorriam: uma jibóia, que mais parecia o tronco de uma umbila, atravessara-se no trilho, pachorrenta e indiferente a tantas espingardas.
- - Mata-se, meu alferes? – perguntou o Ambasse, um maconde esguio, especialista em liquidar cobras daquela envergadura, arrastando-as vários metros pela cauda, com o auxílio de um pau-forquilha.
Não satisfeito nas suas pretensões, ensaiou um esgar de desolação por entre as secas faces tatuadas e juntou-se ao grupo, que já recomeçara a progressão. A jibóia lá ficara, imperturbável, a digerir os restos de qualquer gazela azarenta.
O sol já declinava. Não sendo viável atingir, ainda de dia, o Rio Montepuez, objectivo que, no momento, os movia, com as calças a balançarem largas e soltas debaixo das cartucheiras pesadas, pensou-se em calar o estômago contraído.

Não tinham aqueles homens, já bastante identificados com a vida no mato e com os perigos que lhe eram inerentes, por hábito tomar a última refeição, ligeira, no local da pernoita. O Carrilho sabia bem quanto lhe tinha custado, um ano antes, livrar-se das carnívoras formigas a que, muito a propósito, apelidavam de “cadáver”. Fora uma noite de sofrimento: os detritos, o cheiro das latas engorduradas, eram um tentador convite para aqueles bichinhos gulosos. E apareciam de todo o lado, como que chamados por batuque festivo ao banquete real que a carne odorosa da malta lhes oferecia.
Assim, havia que comer qualquer coisa antes de anoitecer e do descanso, pois impossível seria romper às escuras por uma selva tão fechada.
E foi nessa paragem que o alferes caiu num daqueles erros negligente, ele que não costumava facilitar em questões de segurança. Quando num trabalho de nomadização, em que se andava pelo mato em busca de indícios que levassem ao encontro do inimigo, mas ainda se não seguia qualquer pista, era natural que em qualquer lado se fechasse o circulo para a refeição. Não era este o caso, pois seguia-se um trilho que os guerrilheiros utilizavam. E a norma seria deixar metade da força emboscada junto àquele, enquanto o resto se afastava uma meia centena de metros. Passados uns dez ou quinze minutos, tempo suficiente para tragar umas sardinhas em azeite e umas quantas duras bolachas, haveria a troca do pessoal.
- Como a refeição tem de ser breve, comemos mesmo aqui. Manda abrir o circulo e avisa o pessoal para que se não demore. - e lá foi o apressado furriel Bazuca dispor os homens naquela roda rotineira que fazia lembrar o circulo das caravanas de caras-pálidas perante a iminência de um ataque de Apaches, que o faziam vibrar junto à caixa televisiva, na sua meninice não muito remota.
Foi, então, que um tiro seco soou. Seguiu-se um desordenado e barulhento pegar nas armas em repouso junto aos joelhos dos fardas-pretas, ocupados a esburacarem as latas da ração. Ouvidos atentos, olhos a girarem em todas as direcções, interrogativos, numa fracção de segundos.
De repente, o ar em volta é cortado por uma sinfonia macabra de tiros, rebentamentos e gritos de ordem que não se ouviam.
-UIO-MAMA! - E os homens levantam-se, de armas apontadas. O grito era o sinal já antigo que os elementos em confronto lançavam para avisarem os mais recuados que o inimigo debandava e era o momento de os perseguir. O pessoal da retaguarda cala as armas, enquanto a secção avançada continua a disparar sobre o adversário em fuga.
Foi breve a perseguição. Tinha que o ser quase sempre, quando os poucos guerrilheiros se dispersavam por entre a mata densa. Seguiu-se a batida em linha, para detectar armamento abandonado no confronto.
- Eu sabia que ela estava aqui, meu alferes! O gajo deve ir ferido, porque eu atirei-lhe num braço!.... - e o Jonange, com os dentes afiados por debaixo dos seus lábios espessos, sorria, exibindo uma “Simonov” ainda nova, oriunda do bloco soviético, o maior arsenal da Frelimo. Outros haviam, também se encontravam armas de origem americana e de potências ocidentais.
- O artista vai mesmo ferido, - dizia o ferreirinha, ao inspeccionar a semi-automática com umas gotas de sangue ainda fresco, ao longo da bandoleira de caqui.
Não eram mais do que cinco os inoportunos estraga-jantares, mas foram mais do que suficientes para agitar e desgastar, ainda mais, aquela trintena de homens já cansados.
Seguiu-se o afastar do local para o “estudo da situação” que o Carrilho costumava fazer nestas situações, não só para se inteirar dos pormenores do confronto, mas também para acalmar os homens ainda agitados, com o coração a bater forte e os ouvidos a repetirem, teimosamente, o eco da metralha.


- Foram eles que deram o primeiro tiro, meu alferes. O Amisse estava levantado a afiar um pau para tirar o ananás da lata. Foi para ele que os turras dispararam.
- E porquê tanta demora a responderem? - interrogou o Carrilho, fitando o velho cabo negro, que fora caçador de elefantes lá para as serras do Niassa.
- Nós só os vimos quando voltaram a fazer fogo. Foi então que o Jonange começou a disparar sobre os gajos....
Já escurecia. O alferes estava desolado. Irritado mais consigo próprio por ter falhado daquela maneira de checa principiante, que já não era. Mas que raio de azar aparecerem logo naquela altura! E, pior ainda, não era o grosso da coluna inimiga que tinha por missão deter. Cinco homens seriam, ou uma guarda avançada ou, o mais provável, emissários enviados ao “quartel-general” da área, algures mais a norte, dando conta dos resultados do ataque ao aldeamento, ou na procura de remuniciamento, pois os guerrilheiros quando perpetravam qualquer ataque eram “generosos” no gastar de munições, que não podiam armazenar em grandes quantidades.
Mas tudo isto eram conjunturas falíveis.
- E se os tipos recuam e vão avisar os outros que estamos a tentar apanhá-los? Já não dou nada por isto! - desabafava o Ferreirinha, sem deixar de coçar a micose que naqueles momentos de tensão ainda mais o importunava.
- Não devem ir, meu furriel, - interrompeu o Capoca, com o seu ar de sabe tudo -, eles quando vão para qualquer sítio já têm combinado o local de encontro no caso de serem atacados. Separam-se agora na fuga, mas vão juntar-se lá mais à frente, para continuarem a marcha rumo ao seu inicial destino.
O Carrilho apostou nesta versão. Não só pelas provas de intuição guerrilheira que o “Perdigueiro” já havia dado, mas pelo facto de ter sido já combatente activo da Frelimo. E, vá-se lá saber porquê, era considerado “acima de qualquer suspeita”...
Não houveram baixas nos fardas pretas. Apenas uma camisa furada e um ligeiro arranhão nas costas do Amisse, onde o Correia já colocara mais um adesivo.
A noite marcou-lhes encontro quando já procuravam local próprio para mais um descanso. Não o foi muito, porque os nervos excitados ainda não haviam atingido o “rilex”; tão difícil de conseguir naquela guerra desgastante, nada convencional.
O outro dia seria mais complicado. A ração, em termos logísticos, já havia acabado, não obstante o pouco apetite do dia anterior e o “calo” de poupança do pessoal guardassem umas latas providenciais. A água é que molhava poucos cantis. Ma o rio seria atingido pela manhã e o reabastecimento “hélio”, já prometido, era esperado à tarde.
- Falta muito para chegarmos ao Rio Montepuez? - pergunta o Ferreirinha, quando já tinham duas horas de marcha do novo dia, eram, então, seis e meia da manhã e o sol já raiava há muito por entre o arvoredo, agora mais verdejante e espesso, com o aproximar do rio tão desejado. E o Alberto, uma macua que vivera naquela zona, agora deserta, muitos anos, até que a guerra chegou, e onde tinha a sua palhota e uma grande machamba de mandioca, aponta para o céu sem nuvens e, indicando um ponto imaginário, respondeu ao ansioso furriel:
- Se não pararmos, quando o sol estiver ali, já estamos no rio.
Não foram muito enganadores os dados do velho cabo Alberto. Pouco passava das onze, quando o grupo atingiu a margem de vegetação densa e viçosa do tão familiar Montepuez. O trilho, que nunca haviam deixado de seguir, bifurcava-se ali e perdia corpo, para se transformar numa manta de abundantes pegadas, por entre o tufo de lianas entrelaçadas em árvores de copa larga.
Era aquele o local pretendido para a última tentativa de interceptar o inimigo no seu regresso de ataque ao aldeamento.
Para o Carrilho, que não deixando de respeitar, no essencial, as ordens que recebia, valia bem mais o seu objectivo pessoal e o melhor que se podia conseguir daquela missão era subtrair do controlo do inimigo os elementos da população por ele raptados no aldeamento e que, segundo indicação rádio, rondavam as 20 pessoas. Ele sabia que aquela gente não ia de vontade. Conhecia bem a realidade macua. Se fosse da sua vontade, oportunidades para se juntarem aos guerrilheiros da Frelimo não lhes faltavam, atendendo ao isolamento da aldeia, onde se dedicavam ao cultivo de produtos para sua subsistência e de rendimento, como o algodão e o caju. Os macuas eram pacíficos, queriam paz e não se deixavam aliciar pelos insistentes convites dos “mabandidos”, como então chamavam aos guerrilheiros.
Daí as retaliações frequentes, caracterizadas por um vandalismo primário, pouco compatível com o alardear de intenções libertadoras que apregoavam. Daí, também, o desprezo, a raiva incontida que alimentava uma fogueira de vingança no peito daqueles negros fardados, que deram a algumas forças expedicionárias, exemplos de coragem e de luta interessada, passe a categoria de algumas tropas europeias de elite que se souberam bater com honra.
Por tudo isso, o esforço, o espírito de sacrifício, indiferente à sede e à fome, daquele grupo de fardas negras, preocupado, agora, no encher dos cantis, no refrescar dos corpos sujos naquelas águas transparentes dum rio que desliza em suave paz, alheio aos sentimentos de dor, de medo, de horror àquela guerra e seus terríveis efeitos, de homens que procuravam dentro de si mesmos justificação para uma guerra de irmãos que nunca haviam experimentado. Como acabá-la, como extirpar o ódio, como dizer basta?! Perguntas sem resposta.......
Mas, enquanto estas meditações ocorriam, tratava-se era de cumprir mais uma missão, mais uma peça duma engrenagem bem complicada e havia tão só que a desempenhar o melhor possível, com o profissionalismo a que o dever obrigava. - A secção do Bazuca já está abastecida de água. Vou agora com o meu pessoal. - informava o Ferreirinha, enquanto o alferes, esticando a antena do Racal, tentava comunicar ao Comando a sua nova localização, atingido que fora o objectivo imediato. O restante pessoal, disposto em linha paralela ao leito do rio, tomava posições, não fosse surgir nova surpresa, enquanto uns vinte metros mais abaixo os outros se dessedentavam.
As três da tarde surpreenderam o Carrilho com o Bazuca e um grupo de cinco elementos a reconhecerem o local da emboscada, que até nem era muito apropriado: a vegetação cerrada, com ramos entrelaçados por sobre a margem do rio, apesar de abrigada e bem camuflada, tinha o inconveniente de não permitir ligação á vista entre o pessoal, mas tinha a vantagem de colher o inimigo na travessia do rio, com pé naquela estação, passe o razoável caudal de água corrente. Outras alternativas não eram mais viáveis.

- Apre, mas aqueles gajos passam por aqui? Esta porcaria está cheia de feijão macaco! - vociferava o Bazuca, enquanto se coçava aflitivamente. Aquele pó que as malvadas feijocas libertavam ao serem tocadas era mesmo demoníaco! Irritava bem mais que um bravo urtigal das Beiras. E o comichão não passava, sem que a pele ferida de arranhões fosse esfregada por providencial cinza de queimada recente. Era, naquela região, um dos maiores inimigos que a vegetação tropical lançava contra o homem.

- Os tipos têm a pele dura, não barram as orelhas com creme Nívea, como o meu furriel....-zombou o Correia, que não deixou de ir meter o espevitado nariz no breve trabalho de reconhecimento.

Vinte minutos depois já quinze homens estavam dispostos ao longo da margem, com o rio e o lado oposto à vista, numa linha que, por força da natureza do terreno, não teria mais que quarenta metros de extensão. Os restantes quinze ficaram recuados a uns trinta metros dos emboscados e tinham por missão fazer face a qualquer, pouco provável mas não impossível, aproximação do inimigo pela retaguarda.
Renderiam os outros duas horas depois e, no caso de surgir o grupo inimigo, ocorreriam para os flancos, em reforço do pessoal da frente.

Mas tudo começou pouco depois. O Inferno, numa aparição contraditória, abriu-se, abrasador, por entre as águas frescas do rio e passou-se a meia hora mais longa na vida destes combatentes, passe o facto de já estarem habituados a situações de confronto.
Aquela foi diferente, foi desumana, terrível!....

Haviam sido dadas instruções para que só se disparasse quando o inimigo surgisse em grande número, já dentro de água. Mas ele usava das suas cautelas. De início, só dois guerrilheiros entraram na água. O grosso da coluna aguardava em fila, do outro lado.
Não arriscavam de qualquer maneira. Os ensinamentos colhidos pelos chefes na China e URSS haviam sido bem assimilados. Viam-se os primeiros três estáticos, aguardando que os dois primeiros fizessem a travessia....

E não se sabe quem abriu as portas daquele inferno trovejante, quando aqueles divisaram o cano brilhante de uma G3 menos escondida. Quais molas de aço, atiraram-se em cambalhotas aquáticas, disparando sempre, até caírem atingidos dentro de água.
Foram as primeiras vítimas. Os outros recuaram, retomaram posições e despejaram sobre os quinze emboscados quantas armas traziam.
Seguiu-se um tiroteio intenso, medonho. Três bazucadas inimigas fizeram lume por cima das lianas esfaceladas, por sobre a cabeça do Ferreirinha. Os gritos confundiam-se com o rebentar constante das granadas que levantavam água fervilhante. Gritos de dor, à mistura com outros de incitação, davam àquele quadro incandescente um reflexo de luta e morte.
Os abutres não tardariam a esvoaçar sobre ele!...

O grupo inimigo era numeroso e aguerrido. Notara-se logo, aos primeiros disparos. Mas, se alguém tinha que abandonar o terreno, seriam os guerrilheiros. Eles sabiam-no e convinha-lhes por estratégia, mas a força do seu número e armamento davam-lhe inusitado ânimo de experimentarem o pulso dos fardas negras, talvez, também, para darem cobertura e tempo à retirada da escolta com a população raptada. Só eles sabiam......

- O morteiro, depressa! - grita o alferes, correndo por entre o capim ao encontro do apontador Zé João, um misto landim muito dedicado.
Era o último recurso. Quando a força inimiga era forte, insistente e bem armada, só o rebentar das granadas de morteiro 60 a podia desmoralizar. E, em catadupa, foram caindo na outra margem, com uma impressionante regularidade, dez granadas que elevavam por cima das copas, uma nuvem de folhem seca.
As armas ligeiras foram-se calando, pouco a pouco.

- Meu alferes, temos um morto. O Manjate já não tem vida.. - gaguejava o Correia, com o rosto lívido e os olhos desorbitados a jorrarem lágrimas envergonhadas, - também há feridos, mas ainda os não alcancei. Estão entre as lianas. Eu oiço-os...-e já corria com a caixa de medicamentos por entre o arvoredo.

O eco da metralha calara-se de vez. Só a vozearia excitada e os chamamentos aflitos, entrecortados por gemidos de dor, se ouviam.
Além da baixa do Manjate, atingido em cheio no peito por estilhaços de granada de bazuca, haviam mais três feridos, com alguma gravidade.
Já o furriel Bazuca, com o pessoal que acorrera aos flancos, atravessava o rio em corrida. Era a perseguição ao inimigo que se sabia levar feridos. Os dois mortos, tombados na água, lá contiuavam...
Os homens que sofreram o impacto directo do combate, reagrupavam-se sob a orientação do Correia; transportavam os feridos para local mais aberto e recuado. Um deles era o Ferreirinha, o veterano que, a dois meses do fim da sua comissão, gemia e jorrava sangue. A bala ficara-lhe alojada no antebraço. Talvez no osso.

- Já pedi a evacuação. Depois desta merda acabar, vamos directos à estrada de Macomia que fica mais próxima e, às nove horas, a Companhia de Muaguide tem viaturas para nos recolherem. Disse-lhes para não trazerem rações.....ninguém tem fome depois desta porcaria....

O Bazuca, com o pessoal empenhado na batida no outro lado do rio, tardava em aparecer. Mais do que o braço do Ferreirinha, o Carrilho notava a atrapalhação do Correia às voltas com o Ambasse, com um estilhaço de granada alojado na cabeça. O seu aspecto não era assustador, mas o enfermeiro sabia, por experiência, do perigo de tal ferimento. O braço do furriel, a que fora estancado o sangue, ia inchando assustadoramente. Não lhe faltava o ânimo, alimentado pelas palavras reconfortantes do Carrilho, mas não escondia a dor que começava a sentir, cada vez mais forte.....

Os olhares sofridos do pessoal evitavam o corpo do infeliz Manjate, coberto por um abafo de pescoço. Era a primeira mortalha de um negro jovem, que nunca deixava de estar nos locais mais perigosos da luta. No emaranhado de sentimentos que assaltavam os seus camaradas, ainda não viera à superfície a dor profunda que os dominou, largo tempo, no perder dum companheiro de armas....
- Meu alferes, lá vêm os passarinhos! - informou o Amisse, apontando para os dois helicópteros vindos do horizonte baixo.
Aproximavam-se. Um pouco acima, um barulhento T6 dava-lhes protecção.
A clareira da retaguarda serviria para a aterragem, apesar do capim alto. Montou-se segurança e uma granada de fumo largou um espesso cogumelo.
- E o Bazuca que não vem com a malta! Se houverem feridos dos gajos ou da população raptada, não são evacuados!
Já se fazia tarde e a Força Aérea não faria evacuações nocturnas. Mas, de momento, interessava prestar assistência aos nossos feridos.
Não muito do agrado da tripulação, lá se conseguiu meter o Manjate, o primeiro morto dos fardas pretas desde que há cerca de dois anos o Carrilho os comandava. Teve que viajar no “hélio” com boletim de ferido. Teria um funeral mais digno e humano que aquele que, localmente (na base), lhe poderia ser oferecido.
E quando os helicópteros, barulhentos, se elevavam lá no alto, algumas lágrimas teimosas saltavam dos olhos de homens endurecidos no calor da selva e da metralha, de corações forjados na selva inóspita em fortes laços de cumplicidade. Mas eram homens, sensíveis como todos os outros....alguns bem mais ainda. Não eram mariquices aquelas lágrimas que lhes rolavam pelas faces....começavam a compreender o mundo, a vida, à custa de sofrimento e de morte. À custa de si próprios....

- Já chegaram ao rio. Trazem muita gente com eles! -avisou o Zé João, agarrado ao morteiro 60, que nem a dormir largava. E vinham mesmo. O Jonange trazia mais cinco armas que não eram as suas: três Kalascnicov e as duas Simonov molhadas que, entretanto, retirara do rio. O Ubisse, como se a sua pesada metralhadora lhe não pesasse, exibia duas granadas de bazuca. Outro maconde carregava com dois sacos de papéis e, com a habitual graça, ia informando, zombeteiro, que “os gajos queria montar no mato mesmo o gabinete do administrador....”.
Com os últimos cinco homens, vinham, então, elementos da população do aldeamento atacado. Com eles haviam perdido grande parte do tempo, pois cada qual dos civis se esquivara para seu lado, ao soarem os primeiros tiros. Outros teriam mesmo fugido do local e tentariam, por certo, alcançar a aldeia donde haviam sido raptados.
Tal não acontecera ao filho duma velha negra, que chorava copiosamente: ao tentar subtrair-se à vigilância dos frelimos, fora abatido, de imediato.
Um velho, de peles secas, que diziam ser importante conselheiro do aldeamento, andava com muita dificuldade. Dos dedos dos pés, mordidos pelas micaias espinhosas, jorrava sangue a cada passo.
Não tinha descanso o Correia, naquele lúgubre fim de tarde.

- Os tipos eram muitos, meu alferes – diz o Bazuca, que , mal chegou da batida final, se encostou, hirto de cansaço, a um pequeno arbusto. -Diz esta gente -apontando para uma dezena de populares de ambos os sexos e variadas idades -que devem ser à volta de setenta. São oriundos de várias bases e só se reuniram para este ataque ao aldeamento do Longote. Além dos que tombaram no rio, encontrámos mais um, logo na margem, e outro já mais longe. Levam feridos, pois há rastos de sangue, devem tê-los carregado. Só lá estava este! - e de dedo em riste apontava para um maconde muito jovem, 16...17 anos, já sob os cuidados do enfermeiro. Não gemia, só lançava, a espaços. Gritos de dor. Tinha a perna bastante ferida, talvez pelo rebentamento de uma das granadas de morteiro.

- - Temos de o carregar. Tratem de improvisar duas macas de ramos, pois o velho também não consegue andar e temos de atingir a estrada de manhã cedo. Vamos pernoitar mais à frente. O Alberto, que conhece bem a zona, ainda que nos vá custar, pode guiar-nos mesmo no escuro, para ganharmos algum tempo.

Foi, então, que parte dos fardas pretas começou a rodear o alferes, com um semblante estranho, a passos lentos mas decididos.

- Que quem vocês? Mexam-se que temos que arrancar daqui!...
- Nós queremos dizer-lhe que só carregamos o velho, meu alferes. O turra fica! Morto ou vivo, não interessa. Mas nosso não vai carregar com bandido que matou Manjate!
E travou-se um diálogo acalorado, nada agradável. O Carrilho olhava para o Bazuca, como que pedindo reforço de argumentos, mas aquele, ainda encostado aos arbustos, limitava-se a passar as mãos pelos cabelos desgrenhados....
- Vocês não sabem que é crime abandonarmos um homem ferido, seja quem for? Também gostavam que eles vos fizessem o mesmo? Guerra é guerra, mas o combate já acabou! – insistia o alferes.

- Eles fazem pior! Então porque é que os gajo quando apanha os milícia na picagem mata aqueles que ficam feridos nas armadilhas? Aquele meu primo Silale que ficou escondido na mata, não viu eles darem tiro na cabeça daquela gente?!- explodiu o Capoca.

- E meu alferes já esqueceu o que turras fizeram com seu primo cantineiro lá em Ancuabe, um homem que nem arma tinha e eles mataram junto com senhor Daniel do algodão, lá na estrada de Moja?! – observa o Zé João, num tom mais respeitoso, mas com mal contida raiva.

O Carrilho viu-se perante um dilema que não esperava enfrentar. Aquela atitude de quase insubordinação geral, perante a indiferença comprometedora do furriel e do Correia, tomava foros delicados, de indisciplina.
A muito custo, depois de lhes lançar o ultimato de que pediria para abandonar o G.E. logo que chegassem ao Quartel, caso a recusa de transportar o “turra” ferido, lá o foram carregando, contrariados e vociferando impropérios contra o frelimo que, afinal, era tão só mais uma vítima de guerra, de que pouca culpa também teria. E que, mais do que trazer no peito a ânsia de independência, mais não era do que um joguete de interesses internacionalistas e dos jogos de poder de altas potências.
E a abatida caravana arrancou daquele local sinistro, que ficaria gravado para sempre nas suas memórias.
Local de morte, de desolação, que poderia ser de trabalho e de paz.
Mais um pedaço de vida ficava ali perdido por entre lianas entrelaçadas que as balas raivosas cada mais desuniam.

No lodo das margens daquele rio ficavam enlameados bocados de almas de jovens que pretendiam conseguir o que, viu-se mais tarde, responsáveis não souberam respeitar, indiferentes aos sentimentos duma população que procurava fraternidade e entendimento. Indignos do sacrifício de tantas vidas foram uns e outros. Uns por teimosia doentia, outros por incompetência e outros, ainda, mais recentes, por pressa e traição vergonhosas, quando decidiram ao total arrepio da vontade das populações.
BOM FIM DE SEMANA!

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Insegurança?


Não me quero vangloriar de ter razão antes do tempo, mas, face ao que vem ocorrendo nos últimos dias, reparem se o que eu por aqui escrevi, em 29/8, não tem fundamentação bem actual:

... num período em que, internamente, se dá a imagem de falta de meios humanos e materiais que nos impeçam de soçobrar perante o proliferar de bandos armados que assaltam bancos, gasolineiras, ourivesarias, farmácias, e assassinam para roubar ou por guerrilhas de concorrência entre gangs ou actividades obscuras e marginais. Temos tudo isso, aqui à nossa porta!....

Acrescento agora: de forma galopante.

E não auguro melhorias, neste País do faz de conta........

Este já comentou...rsrsrsrsrs:

Lisboa, 06 Set (Lusa) - O secretário-geral adjunto do Gabinete Coordenador de Segurança classificou hoje como "conjuntural" a onda de assaltos registada nas últimas semanas, considerando que deverá ter pouca expressão nos 20.000 crimes violentos que se registam anualmente em Portugal.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------"Obviamente que são situações qualitativas relevantes, mas que acabam por se diluir nas estatísticas gerais e por ser insignificantes nos cerca de 20.000 crimes violentos que se registam por ano no país", disse.

Ora, pois, digo eu! Ficamos a saber que não há nada que uma boa estatística não dilua............e o diluente destes "porreiros" do Governo é de boa marca!

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Lá longe.....mas tão perto!


Tenho por hábito, sempre que escrevo sobre a "guerra colonial", justificar o acto com a necessidade de exorcizar os meus fantasmas.
Nada de mais errado: ela, aquela "malvada", ficou-me entranhada na alma, agarrou-se que nem uma lapa na memória, gravada para sempre no disco rígido do meu subconsciente!
Já há muito que desisti de esquecer aquela guerra... que vivi, intensamente.
Lembro a minha - que é a que mais dói -, mas não esqueço a de muitos milhares de jovens que, como eu, trilharam aquelas picadas da raiva.
E penso, penso muito, nos milhares que tombaram em África e nos que, sobrevivendo, lutam ainda por debelar da alma dores que só eles sentem e compreendem.

Foi em Moçambique que o meu "destino" militar se cumpriu. Mas foi Angola, a terra-berço de minha mãe, e onde uma guerra mais antiga me privou do avô materno (que era oficial de carreira) e que não conheci, que tudo começou.....

Não é descabido, e com alguma mágoa, terminar com uma contestação: ESQUECEU-SE MAIS DEPRESSA A PÁTRIA DOS SEUS COMBATENTES QUE ESTES DA GUERRA QUE VIVERAM!